Maria Amélia fazia-se à rua com a mesma forma pesada de quem arrasta grilhões de um coração na boca. Abria o pálido rosto à luz do dia por entre a franja imprecisa e descaída. Era o choque diário de um coração cauterizado por imundas mãos, hoje alheias à violência da incessante lembrança. Nem todo o mundo lhe bastaria para a fazer querer voltar a este.
Cala-se, redobra os votos de silêncio já de si morto, pútrido sabor de um círculo trágico, triste e funesto. Afasta os espíritos de qualquer boa memória no habituado cerrar de olhos, fincando os dentes em toda a extensão dos seus lábios, até que a dor se torne insuportável.
Maria Amélia entregara-se à emotiva e incondicional divindade da outra margem do sonho. Os braços abertos na saudade que desconhece o destinado. A sua espera lacrimejada, petrificado caule de um soluço rebento, sem que exista uma vã oportunidade de rasgar todo um passado. Junto à berma da estrada, caminha Maria Amélia, sozinha.
Sua odiosa criatura de mãos frágeis e fracas, num corpo débil e amante da derrota. Servil boca da vergonha, dos medos frente ao espelho. Olhos que mais enganam, enxergam eles a cegueira enraizada tão dentro de si. Que verdade, se a mentira é o alimento da loucura.
Maria Amélia não respira. Morta nas palavras que não se trocam, fria para o calor da partilha, exaurida de um único gesto que revele um sorriso. Acorda Maria Amélia, acorda ela com o sangue coagulado à volta do coração, na sua roupa engelhada e fria de vida. Cheira ao bafio do nojo, à repulsa de mais se querer entre os próprios ossos.
Eterna noiva que espera pelo amor defunto. Espinhando todo o caminho, cravando-se nas mesmas rosas feitas da sua carne. Murmura a vontade de não querer ser mais que um lasso trejeito, deambulante dissabor de uma vida já de si perdida à nascença. Compunha-se num género indescritível de desvelo, ténue lembrança de destroços deixados ao abandono da entrega ao nada que vive em si.
Maria Amélia escondia os olhos, cegava a cura, escondia o nome da sua doença, conspirava em morte contra a solução. Escorrega na calçada com a fraqueza alimentada pelas suas mãos. Tropeça nos pés de quem passa, empecilha, apagada, estropiada sentimental, caída entre peões. Ardem-lhe as pequenas pedras e impurezas nas feridas das mãos esfoladas.
Imprudente, descuidada, és tu Maria Amélia o nome que te inventei. És tu a desconexa, inconveniente e irreflexiva mutante que tanta vez assumi na minha vida. Grito-te Maria Amélia que na fúria foste parida, jurada à escrita de fel, na tua pele branca e lábios carmim.
Cala-se, redobra os votos de silêncio já de si morto, pútrido sabor de um círculo trágico, triste e funesto. Afasta os espíritos de qualquer boa memória no habituado cerrar de olhos, fincando os dentes em toda a extensão dos seus lábios, até que a dor se torne insuportável.
Maria Amélia entregara-se à emotiva e incondicional divindade da outra margem do sonho. Os braços abertos na saudade que desconhece o destinado. A sua espera lacrimejada, petrificado caule de um soluço rebento, sem que exista uma vã oportunidade de rasgar todo um passado. Junto à berma da estrada, caminha Maria Amélia, sozinha.
Sua odiosa criatura de mãos frágeis e fracas, num corpo débil e amante da derrota. Servil boca da vergonha, dos medos frente ao espelho. Olhos que mais enganam, enxergam eles a cegueira enraizada tão dentro de si. Que verdade, se a mentira é o alimento da loucura.
Maria Amélia não respira. Morta nas palavras que não se trocam, fria para o calor da partilha, exaurida de um único gesto que revele um sorriso. Acorda Maria Amélia, acorda ela com o sangue coagulado à volta do coração, na sua roupa engelhada e fria de vida. Cheira ao bafio do nojo, à repulsa de mais se querer entre os próprios ossos.
Eterna noiva que espera pelo amor defunto. Espinhando todo o caminho, cravando-se nas mesmas rosas feitas da sua carne. Murmura a vontade de não querer ser mais que um lasso trejeito, deambulante dissabor de uma vida já de si perdida à nascença. Compunha-se num género indescritível de desvelo, ténue lembrança de destroços deixados ao abandono da entrega ao nada que vive em si.
Maria Amélia escondia os olhos, cegava a cura, escondia o nome da sua doença, conspirava em morte contra a solução. Escorrega na calçada com a fraqueza alimentada pelas suas mãos. Tropeça nos pés de quem passa, empecilha, apagada, estropiada sentimental, caída entre peões. Ardem-lhe as pequenas pedras e impurezas nas feridas das mãos esfoladas.
Imprudente, descuidada, és tu Maria Amélia o nome que te inventei. És tu a desconexa, inconveniente e irreflexiva mutante que tanta vez assumi na minha vida. Grito-te Maria Amélia que na fúria foste parida, jurada à escrita de fel, na tua pele branca e lábios carmim.
Solto-te o cabelo Maria Amélia e tornas-te de novo Mulher.
14 comentários:
Sustenta-se
Maria Amelia
uma vida
de tantas outras
tua
nossas
entre dores e procura
entre sonhos perdidos
algures no fundo
de cada um de nós!...
Amo-te |Maria| de mim...
Amélia de todos.
Soberbo as usual... e sempre
sempre
surpreendente!:))
"Eu vi a Amélia num arvoredo, tão pequenina, cheia de medo".
Xi.
Como o mundo é pequeno!!!
Comentamos há tanto tempo no blog um do outro e só agora é que percebi que nos conhecemos há mais tempo ainda.
Bons velhos tempos da tropa.
E também tu não esqueceste o Maria Amélia lá do quartel...
Delicioso e irresistível como os anteriores. Não é à toa que este é um dos meus lugares de eleição na blogosfera nacional.
Um grande abraço
Ergues as palavras num sentido único da história que descreve Amélia
Gostava de poder ter o prazer tátil da tua ecrita em papel...devias pensar sériamente nisso ;) não só por mim mas por outros mais que gostariam tb
porque será que chamam a determinados homens: "MARIAS AMELIAS?"
OH!
Mas podia ser uma música... Linda e trágica.
p.s.. tens umas fotos belissimas, parabéns!
Gritas-lhe, gritas-lhe, mas aprece que foste de férias com ela e não mais te pusemos a vista em cima...
;o)
Abraço
wow...
junto-me ali à contornus no apelo... pensa nisso (já to tinha dito)!
:)
beijos**
Queres ver que o Lâmpada fundiu???
Interruptor! Interruptor!!!
Já a adivinhava Mulher ants de lhe soltares o cabelo.
entre tantas
Marias Amélias
Espectacular grande mestre.
*
Quando o Moisés (não o do Belenenses) não vai à Montanha (uma ucraniana??) vai ao Moisés. Já que não páras aqui, queres que te leve o blog à tasca?
;o))
Abraço
Todas nós temos um pouco de Maria Amélia..
Às vezes apetece-me soltar o cabelo e seguir de novo...
Beijinho
Enviar um comentário