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domingo, 9 de dezembro de 2012

"spanish letters"

São memórias mais distantes que o tempo. É a distância uma medida para a saudade. É o brilho a causa da sombra que tanto procuro. Embora longe, mesmo sem saber como, custa-me vestir o hábito deste Inverno. Quando assim chove, aqui dentro, nada mais transborda senão um velho poço de desejo. E verte. E ver-te. Embora ausente, sempre estive. Embora consciente, sempre me esqueci. Sempre.




sábado, 7 de janeiro de 2012

|des|entendido

Bem que poderia sujeitar-me a um par de considerações menos felizes, permitindo à vez, a cada má lembrança, uma espécie de inquisição da alma, mas não. O amargor não seria mais que um disparo acidental, trespassando qualquer lembrança emocional. Guardaria de cada momento, apenas e só, um descontextualizado enrugar de inexpressiva dor. Não tenho muito de gratuitidade. Ao invés, faço-me mais à linha, ao suspirar sem querer, mesmo sem haver uma resposta para tal, ou então, sorrir ainda que de copo vazio.

As tremuras, quando nem as mãos se seguram, vacilantes, apontam na direcção da rua. Tremo os pés de forma alternada, descompassada, descomprimindo o nervosismo que reside em mim. É quase como arrastar um morto aqui dentro. Está morto e, para além da condição, é chato.

Seria um homem do mundo, caso não me faltassem as palavras do desespero. A falta é um âmago sem fundo. A carência, uma miragem da constante insatisfação. Em cada estilhaço de tempo, mais um pouco de mim teima em querer-se colado ao próximo. Seria um mundo diferente, se este homem não o tornasse demasiado seu. Eu sei, sou-o.

Único. Devoluto. Egoísta. No antagonismo que o ciclo de vinte e quatros horas possui, é sempre quando deveria parar que me encerro. Entre o que guardo no peito e a mão que me tinge a alma em palavras, reconheço-me no silêncio dos bichos. Distante. Parcimonioso. Redutor. É um estado lato, recheado de vícios, dos quais nem sei elaborar uma razão convincente para os findar.

Seria agora que deveria sujeitar-me a uma péssima memória, um pesadelo revivido, uma pastosa lembrança. Descompensando o corpo, porque ele não sofre comigo, sem pensar que o equilíbrio é fundamental, mas não. O melhor que consigo é sofrer nos olhos que me ardem, nos pés descalços em contacto com o chão frio, na fome de quem não se sente completo.

É como quem diz desdenhando, à excepção de hoje, é sempre.