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domingo, 26 de agosto de 2007

Mulher de Agosto

Jazia ela, como as noites malditas, impávida ao meu pensamento. Saberia mais que ninguém a não confiar em vultos turvos e sombrios. Sabia ela, sem se confinar à frieza, aparecer-se bem e regrada em beleza.

Serena, de pele sarracena, trigueira de amores. Dizia parecer-se com a sua mãe, de outras margens que não as minhas. Beleza mulher, de cercanias maduras, vislumbra-se por entre as coxas, a terra fértil que semeia o seu ventre.

- Mulher! - Chamei-lhe, sem saber que tão certo estaria em dizê-la naquele nome. - Mulher! - Repetia-a. Toda a sua poesia, tanta que nem ar existia para respirar. Só prosa me ocorria por entre a nefasta linguagem dos mortais. Dizer-lhe luz seria ser o Sol. Cantar-lhe o vento seria perfumá-la. Deixar-lhe o canto, como murmúrio de fonte.

E a língua que termina em istmo, entre o coração e a alma, perdurasse mais o teu sorrir que a minha desvanecida vida. Sim, indagava-me entre mares, que nos seus braços seria aportar sem que morresse na solidão. Naufragava no gole da sua saliva, correr-lhe pela garganta, engolindo-me aos poucos.

Mulher, diz-me que mais dizer! Diz-me, mulher, tanta é a dor de pensar-te entre as minhas veias. Doença que fosses, bendita seria a ausência de curas. Purgares quem sou, de venenos me deténs, que oferenda me dás em maçãs do teu rosto.

No caminho que se toma, entre a incerteza do sonho, apenas fui por ali, pelo lado que esperava mais certo. Parei. A esquina que se compadece à veleidade de te esperar. Parei, e parado fiquei.

Mesmo que por mais indeterminado que seja, o tempo feito de mansinho, para me atacar de feição ao seu sorriso. A hipótese seria vasta, como todo o seu peito firme, de mulher que me assombra.

Sonhei-lhe a voz, o cheiro, o calor. Vi-a em cores, formas de névoa, manto de seda de águas profundas. Mulher, chamou-me. Pelos seus dedos pediu o encosto, o encontro de mundos no seu leito. Senti-lhe todo o sal que comporta, de cada lágrima que se aguarda eterna.

Pequei no esquecimento, sequei a espera que te fiz à porta, jurando em mentira por nunca mais importunar-te nestes nadas que florescem em mim. Mais devagar mulher, quero sentir-te sorrir por mais tempo. A pressa é má parideira, continuarei a colher-te a horas tardias, aquecer-te por entre os meus lábios. De cor, sabendo dizer-te o mais que imaginado.

Incomodaria o Luar se clamasse o teu nome a fio pela noite. Conspiraria assim, contra os comuns que morreriam de tanta inveja. Eu sei mulher, o lugar a que pertences, e eu... terei de acordar.
Agora.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Menina

Menina Rosa, encantada dos ventos, perfumes escravos de sua pele madura. Dançante, vibrava nos sentidos comuns de quem a suspira, respira, morre a cada olhar.

Menina Rosa, que no seu perfil tangível ao sonho, sem rosto nem ordem, classificara o seu jeito aos feitos de alquimias perdidas.

Quem foi, de tanto desejo contido, sabido até vinte mil léguas no fundo de mim. Escondida na semblante aparência, ao pé que se entrega. Menina Rosa, ao seu peito regresso, na calma de noites veladas, sabidas, esperadas.

Desvanece a candura, a maldade contida de um pesadelo de pensar pior. Qualquer maneira que houvesse de materializar o cântico, ecoando na gruta criada a mãos de terracota.

Menina Rosa, sereia terrena. Agreste na espera pela morte em hino expedito. Queria a Mulher ser feita à sua imagem, seguindo os seus traços no deserto idealizado.

Menina esquecida, espinhosa, ténue visão nas cristalinas águas que lavam a fé. Levam-lhe as correntes para açudes, cidades e pontes. Verga o Sol à sua passagem, eclipsando a vida à sua ambígua negrura. Menina luar de Outono, que neste tempo preserva-se a condição de vida, aos preparos da intempérie.

Menina, menina vida sem nome. Chamo-lhe Rosa, rota de sedas imperiais. Transtornos nocturnos, mercantilizadas companhias de emotivas ideias. Chamo-lhe espelho meu, reflexo sintomático, sem silhuetas de recreativas movidas.

Ao virar da página, esquece o poeta que o mundo conspira contra o seu sono. Menina, terra de colheitas, saberes e sabores, no mundo interminável da minha cabeça. Poderia cortar os pulsos e esperar que as palavras surgissem por entre as linhas.

Menina mulher de tamanhos encantos, de tanta fina voz desejada em embalos. Embaraço ao que se destina, naquele tom de sorriso envergonhado, timidez enfeitiçada. Não teria uma boca melhor sentença, que o seu beijo tomado.

Menina, escolhida, prendada, tributo de oferenda à terra, olhos que falam ao coração. Voz que gera viver, escolher, dissertar magnânima soltura da sua cintura. A seus pés, toda uma vastidão a conhecer, nos campos que tudo nos são.

Menina carícia, solfejo lento, de mansinho, até ao vê-la raiar no horizonte. Menina Rosa, seus encantos esperados, aclamados, certas são as certezas que correspondido é este sentir de mais vidas a descortinar.

Menina, palco de vida, ostra azul do mar já conhecido. Areia de fina dança das marés. Quanto mais puder ver espraiar, dando alento ao seu vai e vem... e vai... e volta de novo, de rosto, de dor por mais a dizer deste modo, Menina.