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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

P Station 6 am

Procuro mulher desinteressada, usada, comida e cuspida por outros. Desejo mulher amarrotada, cheia de culpas e fugas. Quero-a para nenhum fim em especial, com barreiras intransponíveis, escarpada e perigosa. Sem falsidade, que me engane uma vez por outra com pequenas coisas, golpeando-me na fraqueza de a amar. Atractiva, errante, que se embebede e fume, que foda, que me foda, que se foda mais as suas manias.
Procuro mulher irritante, irritável, irritada, irada com a minha desarrumação. Pretendo-a esquecida, que me perdoe e depois se vingue. É de minha intenção que me bata e depois bater-lhe. Solicitá-la para serões, discussões, amuos e loiça partida. Quero-a por trás, no carro, nas escadas, na cama dos pais.
Exijo uma mulher que o seja. Vê-la gemer, sentir, degustar, amargar-me por ter dito uma frase mal pensada. Interpretá-la mal, ser mal compreendido, discutir enquanto o semáforo está vermelho.
Aspiro a uma mulher engelhada no coração, com nódoas, com maus costumes e péssima cozinheira, sem nunca admitir os seus pontos negros. Sendo ela notável na malvadez, arrancar-me todos os botões das camisas. Que me crave as unhas no peito, nas costas, na cara, tenho intenções de a deixar mordida, amassada, dorida.
Não quero a facilidade e a alegria do doce lar. Sem paciência para demências e psicóticas pancadas. Procuro a emotiva, motivada, mutável, que me transporte para fora daqui, cuidando de mim apenas da maneira que saiba.
Desejo encontrar uma mulher que me proporcione um universo, ao contrário, inverso ao que normalmente um homem quer. Terrivelmente feminina, possessiva, agreste, que me corroa de paixão. Quero-a para lutas, travar batalhas, ideais, adversidades e que me mostre a cidade.
Única, medíocre noutros espaços, que me ajude e me chague a cabeça quando sou eu a falhar. Instigadora nata, cuspirmos pela janela e rirmos numa patetice aguda. Espero chamar-lhe cabra, que se excite por saber que é a minha puta. Quero-a em mim, toda. Sempre. Para mim. Por mim.
Incontornável, de curvas perigosas, exaustiva, inteira, que me deixe no escuro da sua mente. Sonho-a incondicional, esforçada, cauterizante, que me saiba a fel, a vinho e a orgasmo. Sonho-a frustrada, ultrapassada, que me ganhe a subir escadas.
Procuro diva, vedeta, que seja uma vendida pela minha língua no seu corpo. Uma estrela, decadente, persistente, implacável. Mesmo que cante mal, que consiga provocar derrocadas no meu mundo. Destruir-me e ser destrutível, desmontável, dedutível, insaciável. Quero-a com fome, desgraçada, empeçada, complexada, com muitos defeitos e piores feitios.
Procuro miúda de joelhos esfolados, sem se importar com a erva que pica ou a terra no cabelo. Não pretendo que me peça desculpa de cada vez que me morda com mais vigor. Não espero que se lembre do meu aniversário e pense em festinhas ou em jantares no dia de S. Valentim. Em benefício de um serão alcoólizado, que seja capaz de me acompanhar em duas garrafas de vinho por dentro, mais outra garrafa por fora, num voto de silêncio, partilhando os medos, monstros e fungos.
Pretendo uma mulher que tenha tantos males como os meus, piores até. Que não distinga as minhas acções como peças de catálogo, distinguindo em cada uma os pormenores observados. Esperá-la à porta, guardá-la num cofre. Que me esconda das amigas, porque confia menos nelas que em mim. Quero-a irritada, excitada, desenvolta, absoluta, viciada em mim.
Enfim, sucedendo ao tempo de espera, sem chegar a outro tipo de conclusão que não este. E é ter sempre uma razão para voltar para trás, porque todo o bem que possa ter, é quase que adquirido. O mal não. Quando se quer bem, por vezes, faz-se mal.
Desejo-a inconsolada com a sua pessoa, desapontada com as linhas da vida, inconformada com o resto do mundo. Terrorista, massagista, vaca sagrada, mulher policia, malabarista do meu coração. Quero-a na corda, cruzada, injectada em mim, fumá-la enrolada no papel da minha pele. Quero-a por mim, em todo o seu mal, sendo minha.