É a partir desta hora, na avarenta partilha que a insónia consome o sono. É a espera, aguardada na sabida rota das noites perdidas. Sente-a, sorvida no vagar, despejada de algum dever. Cheira-a, com o olfacto de quem não ousa saber que perfume é. Sim, é uma coragem despida, e de tão só, arrepia a nudez dos que ainda dormem na vida.
É a partir desta hora, sem retorno ou calor que alivie os ossos, a têmpera julgada à luz, parece brincar nas desenvoltas sombras de pensar. E tudo assim, tão calmo, solene, taciturno, engrandece o reencontro com essas suaves mãos que me fizeram sentir.
É a partir desta hora, que nem louco me desejo de fora para dentro. Reversiva lábia de me saber intransponível, truncado à partilha. Gotejante moléstia ao mundo, que entre a clareza das linhas, não existe talha mais certa para esta coisa-pessoa. Perdoe-se então o pequeno desvio, de preferência concedido pelo rumorejante cigarro entre estes lábios calados.
É a partir desta hora que cada coisa começa a fazer sentido, já o sabia. E fico-me por olhar, por estes mesmos olhos que nunca vi. Olhar sentido, pensado, revolvido, esquadrinhado, e tão mais bela me pareces a cada hora passada. Indócil sorriso rasgado e roubado aos lábios. Desse cheiro teu, que tens e não o guarda a madrugada até mim, na certa corrida contra o dia. É tecer a fuga para sentir-te em mim, de tão sós que somos.
É a partir desta hora, quando me deito em ti, e de mim deixar de saber, apenas sei saber de nós. É a partir desta hora, sempre a partir daqui.
4 comentários:
Lindo, como sempre...
Beijo com sabor*
Muito profundo e bonito, continua assim. Beijos
Vá lá que em Portugal já não há insónias, há transmissões da Casa dos Segredos toda a noite. bfds
Ler-te continua a ser um vício. Bom, prazeroso, algo cobiçoso, pela busca de algo assim, que te inspira e faz criar dessa maneira tão bela...
Beijo grande.
T´mv**
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