Perdi-lhe o medo. Sim, aquele medo. Talvez por isso não lhe siga o rasto. A quem? À espera, à virtude que existe no provocar o encontro. É forçado dizer-me esquecido, quanto mais ousar-me noutras roupas, por outros corpos, quiçá perdido. Perdi-lhe o medo, só isso.
Mesmo quando a ausência se torna macilenta, na sua tendência para o grês, na crescente semelhança com outros tempos, os duetos resumidos a tramas, e nem por isso sinónimos de compasso.
Sem que lhe sinta aversão, naquela espécie de sobressalto que arrepia a pele, a gaguez insolúvel nos gestos, o suor na impossibilidade do frio, as mãos perdidas no espaço roubado ao vazio. Perdi-lhe o medo, e com isso ganhei um lato momento em que condenso, condeno, coordeno, comandando a máquina pelas estradas despidas. Sem ser uma constante, repito-me, que até na doença do bem, existe um mal que se quer sempre por perto. Demasiado. Já envenenado, sem que o juízo me abandone, certifico-me de não me esquecer, ou talvez tenha perdido a vergonha de mentir.
Perdi-lhe o medo, sem gesto altruísta, porque não existirá um próximo dentro de mim. Perdi-lhe o medo. Perdi-lhe a graça. Perdi-me nas linhas, sem querer abandonar toda a margem que isso me dá, transcrevo-me em toda a extensão de sentir.
No melhor de dois mundos, é fazer-me à estrada nas madrugadas, no tardio enrudecer da voz, contar-me ao nevoeiro, dissipar qualquer dúvida ao longo dos primeiros cinco mil quilómetros. E onde foste? A todo lado e nenhum. Perdi-lhe o medo, não o caminho até lá.
18 comentários:
Fantástico!
Eu perdi o medo quando recebi o primeiro "invólucro mensagem" das Finanças, agora abro a correspondência a rir, corajoso. boa semana
Perderes o medo, encontrando-te... Seguindo no caminho que conheces, destemido...
Fantástico este texto (para não variar!!).
Beijinho
Aventura-te...
*
Se perdeste o medo, então já é meio caminho. O outro meio logo se vê o rumo que dás...
Beijo na alma
Ganha coragem e caminha ate lá.
Muito bom :)
Venho desejar bom Carnaval.
Caro Lâmpada,
Pode-se sempre perder o medo sem se perder a vergonha. Por mim falo. O sonho que me alimenta não é bom na sua essência. Não é e nunca foi. Nada passou apenas de uma armadilha de velhos ressabiados pelo que o mundo não lhes deu. Não por não o desejarem mas porque nunca o mereceram. Em mim ficaram as marcas do que poderia ter sido mas nunca foi. Resta-me somente olhar para trás e recordar o que de positivo eu consegui extrair.
"Perdi-me nas linhas, sem querer abandonar toda a margem que isso me dá, transcrevo-me em toda a extensão de sentir."
Saudades de te ler assim :)
http://www.youtube.com/watch?v=5LWpw3CMCEg
Gosto. Ousar é o que nos permite conseguir.
Depois... entranha-se? :)
Não sei se será bem assim... Se for, deve demorar...:p
Estes teus textos...
muito bem.
eu perdi tudo, e ytento não sentir nada.
As tuas lampadices nunca deixam de me surpreender.
T´mv, Marco*
Então apagou-se a lampâda? boa semana
;)
Gostei especialmente da música... se gostei...
Da escrita, mais da maravilha que já é habitual.
Beijo, cá da Big Apple, com saudades. (Mesmo)
...por aqui... :)*
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