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sábado, 17 de julho de 2010

senzala

A vigente lacuna aclamada num ápice, por este trago tão forte, sabor lacónico, flambeado na memória que me resta. A experiência diz a ficar-me por este trago. A vontade de engolir encharca-me qualquer lembrança. A sede, essa, serpente de volúpia inebriante, dançando em mim, no alambique desta boca emudecida, tormento de um prazer oferecido ao encarcerado coração. Calo-me. Fecho as portas para a rua. Coso as veias por dentro, nesta pele que tanto me aflige. Canso a insónia, choro a imensidão da secura na garganta.

Esquece-me. Olvida-me deste vício. Entornar-me entre as tuas pernas, penetrando-te até pelos poros. Não me sejas doce suor, porque tornear-te o flanco, sabendo-me ao que te espremo, é tão maior a condena que os teus próprios gemidos. Não me acordes, natureza morta, quadro a óleo, prazer espalhado por estas mãos, até onde morre o teu corpo.

Lentamente. Percorres-me cada nervura em tom de saque e doçura. Tremo, sendo esta ressaca o meu garrote da alma. Por ti, de cheias veias, plenas e fartas em te querer. Hirsuto me tende a ficar este ser, ferrando-te a cada investida.

Mas sabe o mal tolher-me numa aventura, num tanto nada espaçado, num pouco pejado de segredo. Afaga a língua nos meus lábios, esta boca consente o desvio dos teus dias. Oferece-me um inferno rosáceo carmim, não aguento mais edemas em sustenidos refreios.

À morte, em esgar descontrolado, já sem ter em mim a noção dos corpos. Esses lábios são meus, estes dedos colados a ti e a mais que virá por fim. Olhos nos olhos, vagueando sem o limite do outro. Não te oiço mais. Nem ver-te direi, se me soubesse responder o corpo. Saciedade gorada, indelével saudade de ti, que ainda aqui estando, tanta falta me fazes.

Sorris como um anjo. Perdida estás, por aqui, por algures. Nos estilhaços espalhados na cama, dentro e fora de ti. Beijo-te nesta cegueira, no vulto teu rosto. Em riste, vou e venho por dentro de ti. Contínuo. Continuo, intermitente, intradérmico, até ao inconsequente descompasso do coração.

Visto-te, sendo que me apagas aos poucos, ainda antes de o pensares. Contempla-me, senhor das horas vagas, desta mácula descrente. Diz-me o instinto, quiçá numa errante razão, não te sentir a falta, sabendo-te tão em falta dentro de mim. Abrasivo amuleto que é uma saudade mal parida, rasgando-me daqui até ali, onde não consegues ver.

Saberia rascunhar-te, esboçando alegria nas veias. Rasuras minhas somente, porque este mal habita em mim. Amar. Cerco este que me liberta.

9 comentários:

Estranha pessoa esta disse...

É.

Luiza Maciel Nogueira disse...

disseste tudo.

:)

bjs

retiro o que disse... disse...

Não percebo sempre como queria, e sinto que um dicionário não basta para te saber.

És muito mais do que sensação simples, és rebuscado, completo, complexo.

Sei lá...

A Loira disse...

Gostei muito da forma como escreves.

Já estou a seguir, volto sempre.

A Minha Essência disse...

Não se deve querer libertar o que nos alimenta.

Beijo

Ás de Copas disse...

Espalhadas as roupas, uma a uma em cada um dos parágrafos, visto-me á pressa...
Abre-me a porta!
Nem tudo que nos liberta nos faz mais livres.

Anónimo disse...

A forma como escreves é fantástica... Ler-te, é algo muito bom :), por isso, volto sempre.

Beijinho

Dark angel disse...

Não se façam juízos às tuas palavras - elas não vivem , quem vive és tu, que lhes dás vida.

Não se façam juízos à tua pessoa pelas tuas palavras - tu não vives nelas, tu serves-te delas, para chegar como queres onde queres, sem que ninguém descubra daquilo que és realmente feito.

Disto se fazem grandes escritores. Continua a dar vida aos teus textos.
Bjo*

Estranha pessoa esta disse...

[*]