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terça-feira, 6 de julho de 2010

n o v o

Sentei-me de novo, e de novo senti-me. Novo, senti-me pendurado por ténues linhas, suspendi qualquer arremesso contra a pedra. De novo, sento-me para sentir que rejuvenesço nas linhas cegas. De costas voltadas para o sol, embruteço a sombra disforme. De negro, grafitado coração, quanto o quero guardado a pulso cerrado. Senti-me novo, no velho corpo.

Não és minha, de parte incerta e perdida. Esquecer-me, oferecendo a ofensa, perdurando um beijo que nem o foi. Sinto tanto, sinto muito, mas se nem ao lamento me dou, sem a entrega aprender ,de uma vez por todas, que os gestos são meros acasos. Movimentos fortuitos, deslizantes por esta pele que me queima na alma.

Uma palidez enjeitada, para dentro. Emoções diluídas a aguarela. Do brilho, um resquício nos olhos. Porque sobreviver não é mais que o arrevesso de um passeio bucólido ao Domingo, de roupas de linho e cheiro a sabonete. É uma mágoa proveniente de uma profundidade quase esquecida, deste Oriente do meu coração, em especiarias e aromas fechados, lentamente revelando-se à superfície da pele. Por aqui, por ali, como salitre numa parede. Insistente.

Sentindo de novo, como sentar-me e cruzar a perna, arrepanhar o cabelo, desgrenhando este respirar que ainda te faz tão presente. Não quero que me queiras, ou sequer me penses. Que exista entre as pedras, como musgo que foge da luz, um perfilar de intenções que não passaram daí. Não me ornamentes, crava-me antes em estacas tuas palavras, em rugiente espécie de encantamento. De sabor metálico, decoro-te neste estertor de pesar em hulha consumada, vendo a morte na única desonra deste ensamblador homem de ineptos costumes.

Acostumado estava, sentia-me. Agora, sou de novo, um mesmo sentir. Não me dando a más memórias, são estes afazeres desalinhados com os planetas e mais essas coisas de alinhamentos. Que me importa, quando tenho o céu estrelado para dançar, e tão longe as estrelas estão, e no entanto, sempre presentes.

Passo dado de lampejo, medulante, neste apoio dado ao aproximar a boca da razão. Espantem-se as criaturas, os bichos e as coisas, que redefino esta marginalidade do me fazer convexo, avesso à medida. Não caibo, e de encaixar esqueci-me. Sinto o novo, no velho meliante poeta vão de escadas.

Então vá, que me enternece o lugar comum, codificado está tudo o que me passe da estagnação à desenvoltura de me sentir novo, de novo. Sinto um desprazer agudo por esta madrugada, corrompida, alheando-me do sono e colando este cansaço aos ossos. Vá, como quem manda no mundo e se repete. Vá, agora que sou dicromático de geração nada espontânea, mando parar a mão que escreve, para que a mente se atulhe neste sentir. Novamente na lassa conclusão, sinto-me nada de novo, sentindo-me novo.

As histórias de amor são bonitas. As histórias somente.

11 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

:) sentir-se com.

bjs.

Bé David disse...

Não só as histórias...

É o Amor...

quando o sentimos assim.

És tu...



Somos*


___Te!

Bé|jo*

farfalla disse...

As histórias de amor são bonitas. As histórias somente.

retiro o que disse... disse...

Com toda a calma do mundo te digo:
Meu amor, mais cego é aquele que não quer ver.
E como eu te vejo tão bem. Ai, se vejo.
SOMOS sim, eu e tu. Nada mais. Somos tanto.

Porque só Nós importamos, e tudo o resto foi vento que passou, madeira que ardeu e obstáculos velhos que nos tentam levar a razão.

Amo-te, SIM. Com todas as letras.

A Minha Essência disse...

É o que nos vai valendo, as histórias... :D

Anónimo disse...

é o amor que faz as histórias dele bonito. ou se calhar é imaginação minha.


[gostei da foto 'carnívora']


=)

Margarida disse...

Fantásticas palavras... :)

Dark angel disse...

As palavras inventam histórias, sim. Mas quem lhes dá vida é o sentimento. E por isso, e só por isso, se tornam bonitas. Ou feias. Mas isso, são só e apenas... adjectivos. Os sentimentos não têm letras, não formam palavras e não ganham corpo em textos. Isso já somos nós, pela ânsia de pensarmos na criação.

Mais uma vez... poeta das formas verbais. Ainda que em terrenos de ovelhas e à sombra de 47graus. :)
Beijo.*

Estranha pessoa esta disse...

"redefino esta marginalidade do mo fazer convexo."

Côncavos são os descontentamentos.
A vida é curta demais para nos dar-mos ao luxo de esquecer os lados incomuns.
Ás vezes os vãos de escadas são a modos que dançantes. Dramáticos. De expressões insistentes. Arre.
Acordai palidez. Perpétua. Acordai.
..
Houve uma vez um gajo matemático de seu nome Euler que escreveu umas coisas sobre uns poliedros côncavos e convexos.
No fim da vida ficou cego e morreu vítima de um acidente vascular cerebral. Perdeu tudo no incêndio, e a mulher aos 40 anos.

O que isto tem a ver com o 'novo'?
Primeiro, tudo tem a ver com tudo e nada está separado de coisa nenhuma.
Depois, o gajo fez das melhores matemáticas de toda a humanidade, arriscando contra a própria igreja, arriscando contra a palidez.. portanto.
Depois... fez os polígonos côncavos e convexos andarem numa orgia do caraças.
Se isto tudo tem alguma lógica?
Muito provavelmente não. Mas há coisas assim. Deslizantes. Que queimam o irracional.

Sento-me.
E cruzo as pernas.
Da esquerda.
Para a direita.

Táxi Pluvioso disse...

"Medulante", hmmm, não é má palavra. Eu colecciono-as.

Doce Cozinha disse...

Não são apenas as histórias... pode é faltar a pessoa certa!