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domingo, 4 de julho de 2010

r e v e r s í v e i s

Saí, ainda molhada das palavras que me deste à tona dos sentidos. Desci, desci por ti como saliva em corpo quente. Não te estranho, que nas minhas entranhas engendro querer-te colar. Enrolar-te enquanto me solto. Sinto esta crescente vontade de tomar-te o peso. Bruto, seco, essa língua lesta, segura, que dura e é dura no insistente movimento.

Vais e vens, descendo por aqui. Gelado, quero-te quente, espesso, pesado e preciso. Rachar ao meio onde ateias fogo, aqui, nesta chama. Inflama-me entre paredes, nas minhas. Volátil, queimar-te em suor, engolir enquanto me tragas. Pequeno alambique, destilando a pele na boca. Dos lábios aos lábios. Ao que é teu e me fica em sabor na língua. Ferida, ata-me o desejo de me debater, adornar-me à tua vontade.

Que mais queres? Diz-me assim, por aqui. Faz-te mais perto, aqui, bem mais fundo que imaginas. Maceramos o corpo, iluminamos a noite, desgarrado gemido na ausência das inúteis palavras. Essa soberba cravada entre pernas. Descai por mim, em mim, para ti. Gotejante alegoria nos dedos molhados, escarchados. És veneno da minha carne, trespassa-me na alma.

Dá-me. Faz-te coeso, tenso, de olhos concentrados na perdição. Cremoso, fluindo, sentir-te pulsar dentro de mim. Gosto disso, quando rodopias, circundas, cercas-me e impeles o sufoco até à garganta, bem fundo, bramindo por mais, chamar por ti, que me leves até onde a dor termina.

Nevrálgica, neste último e precioso reduto, colérica vontade adensada em cada músculo, só um pouco mais de fôlego para que termine. Neste derramar desprovido de simetrias, lambe agora toda a vontade condensada, liquefeita entre nós.

Saí, desesperada, por este corpo que morre e emerge entre as palavras. Inúteis.

7 comentários:

Viviane disse...

Tenho sempre dificuldade em comentar os teus posts. Nunca percebo se são fragmentos de uma vida.

Sofia disse...

Mas que são bem escritos,ninguém duvida.
Bj

Estranha pessoa esta disse...

Inúteis são as saudades. E nunca as faltas.
Inúteis são aquelas brechas de correntes de ar.
E nunca os corpos de puzzles. Asfixiados. Suados.
Como torradas envoltas em manteiga.
Sedentas de fogo. Queimados. Trançados pelo gozo.
Impaciente prazer.
Até à dor. Do nervo. Até ao fundo da dor.
Do vento. Do tempo. Das palavras destroçadas.
Distâncias abastardadas.
Esmoendo todos os tendões, sem precisar de um único toque.
Fluindo por ali acima. Até ao fundo.
Como um vírus que corrupta tudo o que se diz moral.
E eu que gosto tanto do anormal. Do pecado.
Malignidade exaustiva. Dura.
Nua. Completamente Crua.
É Arte contemporânea esta, que te digo. Esta que me sacia.
Que quero o fundo. De toda a dor.
De todo o sal de prazer extasiado pela Alma.
Que às vezes é do tamanho de dois dedos, e outras do tamanho do diâmetro da Terra.
Pulo esta convulsão. São lábios. Também os quero.
Há a|casos assim.
Como que vontades. Molhadas.

retiro o que disse... disse...

E o privilégio de ler(te) em primeira mão. És tanto Marco. Serás sempre o tanto que me preenche.

farfalla disse...

Damm!

;)

retiro o que disse... disse...

Pois...

Anónimo disse...

hey! nenhuma palavra é inútil. inútil também é uma utilidade.

=)