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quinta-feira, 15 de março de 2007

Então começa assim...

Fracturei ossos e dentes, em acidente pensados, premeditados. Provoquei danos, distúrbios, hordas sem nome, com uma nova mensagem nas mentes formatadas. Deformei espelhos e paixões, alterados na minha visão facciosa. Bebi tonéis de más intenções. Indefesas alminhas dançantes, sem dar possibilidade a uma consciência pura, que só por uma única vez me tomou a acção, a primeira.

Fui planeta mais que longínquo, sem nome, sem ter sido catalogado por um idiota qualquer. Quis ser estrada, interminável, no deserto que se vive em aprazível dia de desolação. Fui assim, secura de tempo, terra estéril, penedo isolado. Salgado fui eu, em sabor tão intenso, que amargava todas as línguas que me falassem.

Tanto fui que nem vilão sou mais. Fui até bom rapaz, paciente e observador. Hoje embebedo-me por ser feliz na minha razão, aquela que habita num maluquinho de rua. Pois bem, que mais poderei inventar aqui dentro, nesta cabeça que não sabe parar.

Oh, amor que não vês, sente a própria cegueira no caminho a percorrer. Oh, sangue que nada estanca, talvez a boca que me foge para o lado mais incerto, seja a resposta para a despida alma, da mesma forma como giz em parede rugosa.

Fundei um pais, mundo oculto, cultivado a meu prazer. Fiz sementeiras, nestes dedos que me escrevem a cada linha, completo-me aqui. O Mal, todo o que vive para além de mim, provoca-me a ânsia de nada mais saber. Sem querer, as pessoas enojam-me... e mais... e muito mais. Vou correr, nu, disposto a não parar. Derreto milhas, excomungo os meus princípios, os mesmos que se enrolam aos pés e me fazem cair. Vá, vou comportar-me, a aparência que se constrói, a estátua oca e carcomida, com direito a hino pessoal. A consternação em desacerto, desconsertado, foragido da lei vigente.

Não sei falar de mim, sem que aperte os dedos conta o pescoço. Sei-me tão bem que poderia fechar os olhos e continuar a falar de nada. Nada me supera, nem espero o que se espera. Nada é mais importante que os lugares onde já não estou. Não canto, nem descanso. Não vou dar mão de mim.

Minto, minto muito. É feio. Ai, que malandrice pegada, que bom! Vou continuar a limar fora das arestas, tornar-me mais anguloso. Tão cortante serei, até que mate o vento por completo.

Cuspo para o chão, sem pudor pela bucólica tarde. Obscuro, irei a encontros na mata, amante de mil amantes, sou eu todos e todas. Serei surdo para a melhor melodia, sem melhoras da febre que me faz viver. Afogar-me no ar que respire, inventar mais doenças para o Bem. A felicidade é vaga maré, finita. Morre onde começa a terra, morre na praia.

Arder, é bom ser-se comburente quando o combustível é escrever. Insónia, é melhor quando a seguir se sabe que não haverá tempo para dormir.

Quero droga. Quero mais do mesmo. Ser servido por subserviente desejo, de me encerrar no mais másculo pensamento. Ser invencível, o melhor, o bom que existe. Um chuto no vazio, no dia que já mostra cara do que será. Tomarei vinte e quatro, horas que são minutos de pensar no mesmo. É terrível articular-me sempre no mesmo sentido, o que não vem nos relógios. É difícil vestir a pele que tenho por dentro, roupa insuficiente para tapar o mínimo necessário.

Espero à esquina, pelo cliente que sou de mim, desejoso em lacunas sentimentais. Deteriorar-me na entrega, em troca de umas moedas. Olho-me nos olhos, faço-o comigo. Com força. Dói-me. Rasga-me. De tudo o que fica naquela cama, uma beata mal fumada, jaz no ventre criador de mim. Corto-me em finos fiapos, pesado a ouro, tingido a negro.

Voltarei para casa, deitando-me ao meu lado, no silêncio do que já não me une. Escondo o perfume barato, o suor que evapora a união das minhas faces. Nem uma palavra, nada do que já esteja gasto. Costas com costas, estas que tenho, para quem sou. Ao acordar, fintando-me ao espelho, direi novamente...
- Puta, sou tão deliciosa. Que horror!

7 comentários:

Anónimo disse...

Intencionalmente agressivo e irónico.
Mto bem escrito...aliás como sempre :))

Sìlvia Neves disse...

Concordo! :)
Como sempre uma escrita intensa em que as palavras nos fazem tremer.

Anónimo disse...

tu dá-lhe.. e a mim não me convences que és mau; podes descrever-te das piores maneiras que a mim não convences. Ou queres à força ser mau? Tu dá-lhe!!

Anónimo disse...

o coment era meu..

eudesaltosaltos disse...

Perturbador. pela ironia, pelo sarcasmo, pela frieza calculada das palavras... bj

Anónimo disse...

mau!..eu não tinha já vindo aqui? ando a levar com mtos fumos..
olha, só te digo;..esquece lá o horror porque és mesmo deliciosa mnha puta!
smak|

Aestranha disse...

Tanto julgamento moral... Não de quem comenta, mas teu. Acredito que sejas "mau", todos nós o somos mesmo que o não queiramos admitir. Mas o "mal" é o sal que tempera a lágrima...

Beijos