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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Estranha aparência... real.

Deitada na cama, todo o quarto me parece igual. Na estranha aparência que liga a realidade ao que vejo, por raros momentos, tenho a noção de que o mundo gira no sentido correcto.

A quebra do silêncio, na minha profunda respiração, olho para bem mais longe que as persianas meio cerradas. Pestanejo, sinto o ardor no olhar de quem tanto olha para nada. Acima dos meus ombros, bem acima de qualquer suspeita, desespero pela rugosidade instalada nas minhas paredes. Toda a muralha do meu reduto, faz-me morrer sozinha no dia.

A tarde, essa que morre comigo, na sua lentidão do costume. Acompanho-a. Oferece-me as suas mãos, como amante que me embala. Desejava conseguir acompanhar o teu coração, como a sombra segue o sol. Ali, para além do horizonte, tudo mais que a minha realidade.

Nos olhos de ver, é tarde demais para recorrer a uma acção que interfira com a inércia. Fico-me na quietude, no estranho combate em que tudo se entranha, na minha voz que te grita. Incessante e exaustiva, é sim, toda a minha vontade de te abraçar. Este espelho que me enegrece, deformando o que já por si está, as horas que passam em corrente maior, sem que me sinta segura aqui.

As asas que me ofereces, de cada vez que nos encontramos. És tudo o que nunca achei, mais além daquilo que procurava. No teu silêncio carregado, calcas a minha pele. Arranhas-me com o teu sussurro de emoções. A sensação de me beberes quando consumamos o gesto, quando sais de mim e me deixas quente por dentro.

A estreita linha que nos une, bastante para fazer do mundo um lugar pequeno para nós os dois. Tu e eu, a cada reencontro, a entrega que se dá neste sentido, voraz em esquecer tudo o resto. Tu e eu, paixão. Amor, permite-me que te trate assim, Amor.

Queria poder agarrar-te com mais força, em vento que enche as velas. A vontade, tanta mais que toda aquela que possas imaginar. Queria prender-te ao meu peito, colar-te em todo o espectro de luz que és, um outro brilho. As tuas mãos, macias no toque, fortes na posse, no meu quadril despido pelo nosso desejo. Amor, diz-me em voz segura, não te permitas mais a esta longitude que nos aparta do mesmo entardecer.

Mesmo que me mintas e te escondas, atrás desse mesmo papel inventado por ti. Mesmo nesse teu mau génio que admiro, diz-me que o teu coração, na bondade do homem que preserva, não se esquece de quem espera.

Concede-me o desejo de me apoiar em todo o teu trono. Aveluda-me a língua, gasta por esgotar-te em palavras que te chamam. Oferece-me outro do teu sorriso, tornando bem maior o orgulho por te sofrer em cada instante do dia. Esperar-te Amor, em que nem as pedras ficam indiferentes, as mesmas que servem de referência, na rota de te voltar a ver.

Que me ardam os olhos de tanto te olhar. Que te ame em palavras semelhantes, daquelas que me escreves. Eu, palavra em que me transformo, Amor, palavra que te sou e pertenço. Escrevo-te no escuro, no mesmo que guardo a minha saudade. A sombra que nunca te larga, a mesma que segue o sol, até onde estás.

10 comentários:

Anónimo disse...

A paixão forma dentro de nós um intrincado labirinto, e é aí, entre a escolha e o esquecimento que nos perdemos da realidade :))

Anónimo disse...

Estou confusa.. a escrita é semelhante à tua mas encontra-se contado no papel de uma mulher.. Está lindo. Colocaste-te no lugar dela? Divinal.. adorei ;)

Anónimo disse...

é bom estar-se na sombra. aguardar no esconderijo. ambos sabemos que as palavras podem ser um refúgio e... um excelente exercício ;)*

eudesaltosaltos disse...

adorei o ultimo paragrafo... sublime. bj

Lady disse...

Está fantástico... o texto! Um beijinho e inté...

Cátia disse...

Olá.

Passei por aqui um pouco por acaso, mas gostei imenso do blog.

E o texto está excelente, parabens!

Cátia

Misantrofiado disse...

Olá, viva meu caro.
Decidi vir espreitar após ter vislumbrado por várias vezes o teu link, aqui e alí e... em boa hora o fiz.
Denoto em ti uma nitida paixão pelo sentido (da palavra). Reconheço esperança no olhar de cada letra tua e dou-te os parabéns. É bom e é bonito saber que os homens se reverberam assim.
Bem hajas e até breve.

Aestranha disse...

Continuas a espalhar beleza por ai...

Mil beijos (adorei as tuas fotos!)

Sónia disse...

Olá.A dado momento deste texto, dei por mim com a sensação de estar com os olhos fechados e a flutuar numa verdade que conheço tão bem...Estranha sensação esta, acho que nunca me senti assim ao ler o que quer que fosse, como se me dividisse em corpo e em alma.O corpo leu, a alma sentiu! Adorei!

Anónimo disse...

bem..tou banzada. a crystal não podia defenir melhor..continuemos..e a musica?! adiante..