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terça-feira, 15 de junho de 2010

na primeira pessoa

Não sei se me farte de sentir, ou se me enfarte por um Outubro de folhas caídas. Restam-me dúvidas, e este receio de morrer estúpido. Mais ainda de quando traguei o mundo, degrada-me mais depressa todo o processo de pensamento. É sentir-me ilógico, fraco, mortal.

Pensei que já soubesse lidar comigo, mas não, não sei. Assim como não sei o que fazer a esta ânsia, quando me falta o ar e dou comigo frente ao mesmo espelho de sempre, repetindo o meu nome, até que caia no desgaste de me chamar.

Porquê? Porque me encerro para explodir. Porque me abro ao mundo para me conter. Dá-me esta vontade mal canalizada para me querer riscar aqui mesmo. Aqui. Aqui, Marco. Risca-te aqui, já. Repete-te. De novo, repete! Repete-me. Lava-te nas mesmas águas, procura sobre a mesma pele em que acordas.

E pior, deixo-me cair. Levanto-me. Repete-te, Marco... aqui, bem baixinho. Segreda-te nos medos que assim te assolam. Estás descalço. Bem sabes que te encontras de coração nas mãos. Lambe esses lábios que tanto desejam entrega. Solta esse cabelo. Solta. Solta-te. Repete! Repete-me de novo.

Conheces estes passos, todos os baixos e venenos. Toma-te, que este trago é unicamente teu. Sabes-me bem. Nesses olhos, no olhar que escondes, o que sempre escondes. Mostra. Mostra-te, porque o teu suicídio é esse tão bem saber viver. Faz-te mal tão bem querer. E tão bem que o mal te faz, estremeceres de receios e dos demais incrementos do amor.

Escolhe-te, sem que te recolhas entre as paredes. Percorre-te a sós, um minuto antes da entrega. Toca-te. Tocas-me como nem eu me sei tocar. Sabes tão bem, bem sabes como te reescrever por entre húmidas paredes. Contraria-te e contraio-me. Sal, suor e lágrimas. Sangue, veias, gemidos e vazios. Sussurra-te, que te quero em voz perdida, quando estendes a língua aqui. Aqui. Aqui, Marco! Não sabes parar. Não te esqueces de me deixar de ouvir. Rasga. Rasga-te até onde te fundes em mim. Rasga-me, que não quero mais ser estátua icólume ao teu sentido.

Sente. Sente-me por entre os teus dedos, esvaindo-me a cada trago aflito. Nos teus, guardares toda a noção que me ofereces, perder-me para ti. Cai, desejo-te em queda, de joelhos no chão. Puxar-te para mim. Para mim. Porque te quero ver assim, na segunda pessoa do singular, sabendo-te tão bem sentir a primeira.

Concentra-te, esquece quem sou, o que tu és. Levas-me daqui, para ti. Trazes-me recordações de boas maneiras. Outros tempos em que soubeste o que era a entrega. Encantas-te ao espelho, mirando esse flanco desprovido de pele, vidro ou armadura. Ensejo oferecido a outras mãos. Desejo desenhado a outros dedos. Aproxima. Aproxima-te. Permite o toque de morte, Marco. Repete-te como da primeira vez, em que tanto soubeste diluir o teu sorrir.

Eleva-te. Leva-me. Sublime despertar madrigal, que tens couro e corpo sedento de vaidades. Desejo absoluto de gritar essa chama aflita que te enrola a garganta. Arde o mundo, tu nasces. Exaspero no tempo que demoras a roçar-te por mim. De mim já nem sei, sabendo que para ti sou-te presente.

Enlouquece. Enlouquece-me neste aperto agudo. Tortura-me com esta ausência, mas tão presente me floresces na pele. Arrepias-me. Calas-me o vazio, preenches-me os frios da alma. Corrompes quem sou, vencendo-te na gota que te encharca. Crê. Quero-te. Grita-te. Mais. Mais! Mais! Grita-me no pulmões que tens para te sentires dentro de mim. Morre e mata-me, com amor.

Só assim te sei escrever, com tanto engelho e engenhos de jamais perderes a noção desse teu nome. Só assim, de cada vez que estendes as mãos para fora do teu peito, arrancando pedaços à terra que te fez à imagem da lua. Enlutas preconceitos. Demoras os beijos, de braços abertos à luz. Que as lembrança não te corroam as vitórias. As despedidas, mesmo que breves, não te afastem o medo, nem a luz dos teus olhos.

Queda-se a justeza menor à estranha incapacidade de me saber lidar frente ao espelho. Que todo o pesadelo me lateje de vez na cabeça. Arranca-me deste peito, Marco. Arranca-me daqui para ali. Mais além. Mais! Quero-me mais em ti, nestes meus ossos. Com toda esta dor de me refazer à imagem do Homem. Dói-me tanto, tanto que é sentir-me bem.

9 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

"Que as lembrança não te corroam as vitórias. As despedidas, mesmo que breves, não te afastem o medo, nem a luz dos teus olhos."

Lindo!

Bjs.

retiro o que disse... disse...

"Pois a flecha não fere os covardes." Homero

Primavera disse...

Assim te identifico(as) em cada suspiro exalado...


:)*

Bé David disse...

Marco
Geodésico
Rodézico
Zambézico
Tudo sendo
Desconstruindo-te sempre
Montando de novo
Voyeur de ti mesmo
Por detrás do espelho.
Incrível capacidade de te desentranhares
E mostrares
Aquilo que queres e não queres ser…

És TU!(do)

Tu sabes… :)

Bé|jo(oooooooooo)*

Filipa C. L. disse...

Impossivel comentar-te. Uma pessoa lê e fica sem palavras, na hora. Não dá Marco, não da pá

farfalla disse...

"Arranca-me daqui para ali. Mais além. Mais! Quero-me mais em ti, nestes meus ossos.

Grita-me nos pulmões que tens para te sentires dentro de mim. Morre e mata-me, com amor.

Arde o mundo, tu nasces.

Cai, desejo-te em queda, de joelhos no chão.

Sente. Sente-me por entre os teus dedos, esvaindo-me a cada trago aflito.

Rasga-me, que não quero mais ser estátua incólume ao teu sentido.

Sabes-me bem. Nesses olhos, no olhar que escondes, o que sempre escondes.

Porquê? Porque me encerro para explodir. Porque me abro ao mundo para me conter.

Restam-me dúvidas, e este receio de morrer estúpido. "

Vês.


http://www.youtube.com/watch?v=bqT5Y2Ul3bg&feature=PlayList&p=604F944749FF9710&playnext_from=PL&index=0&playnext=1

_baci_

Matilde Quintela disse...

Sublime!
Cada vez mais me surpreendes M* !
(:

Estranha pessoa esta disse...

Tá bem.

Dark angel disse...

Como diria o Mr. Macky : mmmmmkkaaaayyyyy.......... é o que se diz, quando nada se poderá dizer mais.

Marco : Uau.
Beijinho.