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domingo, 20 de junho de 2010

zimbro

Sou serpente que te ladeia, rodeia, sibila ao ouvido, venenos tremendos, sem mãos, nem pausas, porque de vírgulas lembram-se outros tempos, sem enredos, tramas, intrigas, vozes sussurradas. Atroz, traz a mim, deste nós criado, lânguido, lambido, a sós, a dois, tu e eu. Somos vozes, ecos, resquícios, afins, esconjuras, partituras, danças sem pares.

Sou homem que te acentua, assente por este corpo, nesta língua, que de absintos sou crente, e tu, meu veneno presente, dá-me de beber. Sou forte, sou fraco, sou quem sou e nem a ti sei dizer-te mais que uma recorrente lábia, corrente, escorrendo-me em torrente que me emerge pela boca, esta, esta, esta repetição de gestos lambidos.

Sou vontade que te abre, consome, envolve, vontade maldita de te explorar, exaurir, escadear cada traço teu, no meu, neste meu, álcool que me tributa a carne, sem cerne nem desarme. Vem nos teus dedos, e com calma, toma-me e sente, como posso ser eterno, sem que efémero esteja a dizer-te, que nos meus olhos me morreram amores, dissabores e outros fins a que me dei.

Sou gesto jazido, trazido ao de cima, e em baixo tenho uma vontade carnal, expectante, sem redundâncias ou horas, dispostas entre nós, entre corpos, entre lençóis suados a tanto, e por tanto e muito mais te escrevo entre as minhas pernas. O tacto, sentido, num toque, inverte-me nesta orla que se faz tua, tua a minha vontade de te ter nua.

Sou presente, recorrente na crença que se adensa no coração ao sopro do teu pulmão. Outro tenho, singular, restrito, prostrado, bendito momento em que as mãos se me adensam mais que a consciência. Oiço-te no vazio que se instala em mim. Quero mais.

Sou intenção, tenho vontades, sonhos a descobrir, e a descoberto me dou, em ensejo, de jeito troçado, por outros, os que me habitam, mas vivem à espera que vença, valide quem sou. Coloca-me as mãos nas rédeas, preciso parar, colmatar a solidão num beijo teu. Dá-me a soltura que me falta, por ti, em ti, bem dentro, mais fundo, gutural te clamo neste sentido, até te atingir, quem devo chamar quando me venho, e tenho em mim parte tua, desta mão que te escreve, bem depressa, sem mazelas na pele, e descreve-se em círculos, sucintos limites da própria noite.

Sou, apenas o sou.

2 comentários:

Matilde Quintela disse...

Não sei porquê, mas ao ler o texto pareceu-me envolto por uma melodia suave, mas no entanto tão intensa!...
Parabéns (again)

retiro o que disse... disse...

Porque será que fico sem palavras? Será porque as tens todas contigo?