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terça-feira, 22 de junho de 2010

desassossegos

Se a minha Alma fosse por aí adentro.
Desalmadamente por aí adentro.
Sem paragens de mercúrios.
Sem sentidos de pensamentos.
Ai se ela fosse por aí adentro.
Sem traços de passados.
E medos de futuros.
E pousasse assim.
Devagar no soalho da tua mão.
De palmas em concha.
Com cheiros de amoras.
Ai se ela fosse. Assim. Por aí adentro.
Frágil com alicerces de veias.
Desalmadamente por aí adentro.
Fugaz. Vermelha. Viva.
Aos saltos por aí adentro.
Absorvida pelo desejo.
De te encontrar entre os meus dedos.
E assim. Só assim.
Sossegar a pele.
Ai se ela fosse.
Desalmadamente tua
Por aí adentro.

Se a tua alma fosse minha.
Descompassada, em jeito triste.
De olhos em riste para a lua.
Sem adornos dos dias que te gastam.
Oh, se sobrevivesse mais um dia, a um trago teu que fosse.
Ao limite dos teus olhos amêndoa. No beijo que me dás amargo.
Saberia guardar-te entre despojos.
Que do teu deserto guardo miragem.
Passados teus cravados na pele.
Se essa alma me coubesse no corpo.
Oh, como seria o meu sangue tão mais espesso.
Saber-te-ia larápio do meu sossego.
Calado. Absoluto, e no entanto, tão e somente disperso.
Reencarnar-te. Dançar nos teus ossos.
Saber-te até ao último grão de areia.
Nas tuas sombras lazúli. Na tez trigueira de quem evapora ao sol.
Gastador de palavras. Dorso alongado entre meus dedos.
Se essa alma fosse também minha.
Aprouvesse a lívida brancura tornar-se escarlate.
Gotejante desmesura. Transformar-te em carne.
Vivo.Sereno. Perene. Esquecer-te dentro de mim.
Oh, se toda ela estivesse em mim.
Assim. Só assim.

Se estas mãos fossem espíritos.
Estas quatro, tramadas a quente.
Pousar-te a mão na alma, lavando-me no teu rosto.
Parir cada murmurado segredo.
Criar-te para cada medo.
Se estas almas fossem mãos.
Frutado. Tanino. Lastro veludo o teu manto.
Duas mãos abertas. Um aceno apenas.
Assim. Só assim.
Reclamar esta pena em fuste, no coração
Premer-te. Calcar-te sobre mim.
Se cada dedo fosse um desejo.
Morder-te as mãos da alma.
Despejar cada abraço, como o rio que se oferece ao mar.
E esse ar a outro respirar.
Solfeja-me.
Ai alma sombria que me acalentas a morte.
Cor essa que tens aí dentro.
Essa. Só essa.
Se estas almas fossem por aí adentro.
Onde te misturas em mim.
Oh, que nos meus ais seria tua.
Tua. Desalmadamente na alma.

6 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

tanta alma numa só poesia.

bjs

Cátia disse...

Sortudo o corpo que te carregue, um dia, hoje, amanhã.
A tua inquieta alma na ponta dos dedos, o teu sombrio corpo na ponta da língua e esse coração, que por vezes tão fraco bate, dentro do peito.
Sortuda de quem te carregue, por completo. Hoje, amanhã, quem sabe um dia.

retiro o que disse... disse...

"Porque me despes a cada palavra, e me tiras do sério. Quando és jazz que me corre nas veias, e uma imensidão de pautas que não sei interpretar."

És! Lindo. Meu.

Dark angel disse...

Porque sei que o mereces mesmo sem ele ser visível...
Passa no meu canto.
Beijo.

Matilde Quintela disse...

Esse teu jeito de escrever música, e swing, é poder, é vida!
Bolas, esta publicação é mesmo fantástica!

Ps: Dois selos para ti no meu segundo blog. (tinha que os mandar a alguém e lembrei-me de ti.)

Anónimo disse...

Olá! Obrigada pelo coment ;)

Esses textos são verdadeiras obras literárias, artísticas e emocionais, numa só palavra são... indescritíveis...

Parabéns... sinceros!