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segunda-feira, 21 de maio de 2007

T r a n s|m|u|t|a|t|i|o|n|e|

Poderia ter um inicio especial, nem sei bem, porque haveria de me preocupar com isso? Conseguiria rumar sem saber, como detentor de uma certeza, a caminho de uma tomada consciente, até à meta. Que destino? Para que fim? Incomoda-me a verdadeira meta, acaba sempre num final.

De cada vez que pratico a pausa, mais certeza tenho no que me é incerto. E tanto me seco de ideias, como se me abate em dilúvio não anunciado, palavras que não chego a escrever. Sedimento com o passar do tempo, sem que me transforme em rocha dura, nem fóssil para futura memória. Não sei nada mais que este pouco escrever. Muito menos será este, um gesto humilde e sincero, porque isso cultiva-se nos homens verdadeiros, ou pelo menos, os que tanto almejam sê-lo.

Rendo-me antes a este vício de me explorar, violentar as horas de sono, esquartejar a madrugada no meu silêncio, no meu momento de paz. O sonho que espera, ansioso pelo adormecer do meu corpo. Exploro, quero mais espertina, cafeína, nicotina. Heroína apenas, meu desejo de carne e osso, aquela mulher que paira no ar, eterna... etérea.

A pele nua, colada à pele de outro que não me lembrava já ser. Outro tanto que não sabe que parte sou eu. Sem que me confunda demasiado, neste gesto do saber quantos mais sou, por fim sendo o mesmo, e mais uma vez, no final de mim. Seria amnésico, sem relatório de danos, seja pancada maior que a minha pessoa, salutando por mais brindes de alcalóides.

Em tempos acreditei que a euforia fosse o elo maior de toda a criação... assim Deus, ficara louco varrido após finalizar a sua. Sem que me compare, apenas o espírito não era tão pesado na altura. Já o cansaço tem nome com significado, pesa-me nas pernas. Preocupo-me com a intensidade da dor, num desacerto do coração. Talvez me bata à porta, uma inconsolável perda, que em dor maior me torne, num fracasso que nunca quis ponderar haver em mim. A hipocondríaca mediatização, da decadente rotina do meu mundo, sem que dúvidas hajam que um dia me vou arrastar, de uma divisão para outra.

A manhã que já desperta e me apanha desprevenido, de olhos perdidos para o fundo azul do tecto celestial. Acompanho-me num cigarro, pesando-me a vista e os ombros. Cansado estou eu, sem que tenha um café para despertar. Sem que me incite a qualquer gesto brusco, saio da luz e retiro-me para um canto escuro. Vem aí um dia quente, muito quente. Durmo agora, de seguida, depois de ter estrangulado a noite.

9 comentários:

Jo disse...

gosto de estrangular noites assim.
bem espremidas, resultam sempre em sumo introspectivo...

*

Anónimo disse...

Vais-te inventando a cada dia, meu amor :))

Anónimo disse...

Todas as palavras têm "vida cheiro e movimento"... as tuas têm-no num "sereno violento".
Escreves cada vez melhor... e esta musica é divinal.

A dor... sempre a dor... Já perdi a conta dos dias de dor que tive ao longo da vida. Aquela dor insuportável que nos rasga o peito, que nos faz ter vontade gritar para o mundo ouvir e sofrer também.

"Quero que todos sofram comigo" grito eu afogada nesta "dolorosa dor"
... É isso... porque tenho de sentir a dor sozinha? Partilho-a... alguém me acompanha neste grito de desespero?


Bem, esta música já me está a deixar demasiado dramática.
beijoka

b.

Aestranha disse...

Fiquei "apanhada" por este texto... Ainda não o consigo comentar... talvez porque tenha tanto a ver comigo... Tu percebes as minhas manhãs tal como eu percebo as tuas noites...

Obrigada pela companhia :)

Mil beijos

Depois de mim disse...

Feliz de ti que tens uma arma mortal e que a usas sem remorsos contra a tua noite. Que sejas sempre tu a esquartejá-la e que no final, consigas limpar o local do crime.

Virei mais vezes tentar aprender a maneira de chegar viva às minhas manhãs...

Estranha pessoa esta disse...

Cansanço de esperar esse tal 'despertador' não daqui mas, dali.
Retirada fria.
Peso da ausência do 'brusco'.
Para quando o inesperado?

Mas, a lampâda ainda se mantem mervelha...

Temes tornar-se vermelha?

Melody disse...

É na noite que nos encontramos!
É na noite que nos exploramos!
É na noite que nos projectamos!
É na noite que nos descobrimos!
É na noite que vivemos...

Fantástico meu doce.
Mil beijinhos cheios de saudade.

Ana

Anónimo disse...

Se a verdadeira meta não fosse realmente um final é que ficaria preocupada. Gastar tempo é hoje o único fim da existência. Todas as palavras que lemos, as imagens que vemos, os amores e desamores, as dores e as perdas servem para nos consumir instantes; porque somos seres estranhos, que rebolam em ralações, alcaloides e sentimentos hipocondriacos e talvez por isso vivemos amores igualmente estranhos. Pior do que caminhar para a meta que é o fim,é julgarmos que ainda estamos no principio.

A. disse...

...e rapidamente.venho dizer que,








és mesmo giro pá.mesmo mesmo.e digo.digo e digo.e só não faço porque não posso...;))


obrigada __M.___________________!!



:))
beijos.mil.