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segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Sem nome que aparente

Saía de casa logo pela manhã, como em todos os dias da sua existência. Ondulante, em tom condizente com o sol de Inverno. Cativava qualquer sentido por onde passava. Exuberante, o seu perfume era uma delícia, manjar em corpo proibitivo.

Cabelos silvestres, pequenas tranças que na tempestade manietavam qualquer tentativa de movimento contrário. Tudo para si, sempre em seu sentido. O pecado em carne, como giz em ardósia rugosa, em tão pouco me gastava.

Abordava-me a alma, erguendo a sua bandeira de corsária. Rendia-me, porque era esse o meu papel. Era o fascínio por toda aquela estranheza, que se entranha, que emana e se consome. As suas curtas palavras, tão longas em saborear, gritava-me no seu sussurro:

- Q u e r o... s a b e r – t e... m e l h o r...

Confuso, sem escala nem norte, deixava ao acaso qualquer tipo de pensamento reactivo. No saber ou na sapiência, estava ali. Perante os meus olhos, à luz do calor da fricção, qualquer fusão que se conjugasse no momento, seria unicamente um ponto em cada um de nós.

Todo o seu género, feminino, envolto na chama que se esconde entre matinal nevoeiro. Perigava a própria narração que ousava fazer. Deturpado, por aquela frase me ter dissolvido, segui por caminhos que me eram novos.

Consciente da inconsciência que era segui-la. Peão persegue rainha, rainha come peão, pensava eu. A derrota era apenas um pormenor menos importante. Relativo, condicionante à minha visão, assim como a curvatura a que todo o meu ser estava sujeito.

Queria voltar, correr, cair na terra solta. Cuspia, em pensamentos vagos, hipóteses de um nome possível. Não era mais que uma presença. Casual, sem dor nem pudor. Ficaria grata se lhe tivesse oferecido a minha mão, em recompensa talvez de um pouco de calor.

Toda ela vivia em cada lugar. Toda ela tocava em cada dedo disperso pelo mundo. Toda ela não era mais que inexistência. Absoluta, gradualmente tornava-se em nada.

O dia é curto, a vida menor que um dia. Estar aqui pouco ou nada significa. Eu via-a sair de casa. Somente eu a via. Guardava todo um tesouro, em sentido especial.

Por vezes apetece-me tanto, mas tanto… chorar em amargura displicente e histérica. Por vezes queria tanto dissolver o meu corpo, na acidez que me corrói por dentro. Por vezes desejava não a ter visto, nem num único grito seu em sussurro, aquele seu…

- Q u e r o... s a b e r - t e... m e l h o r...


Por vezes, que é todo o sempre, reformulo parte da minha vida, sem saber ao certo o que fazer. O sempre que nada é, sem vento no rosto que lhe secasse a lágrima. Revia-me nela, porque também eu queria saber-me melhor.

A disciplina da aprendizagem, em paladar que não possuo. Aprendi com ela, em todas as horas, minutos que foram, que fizeram da transparência um vidro opaco. A fronteira entre dois mundos, a barreira que eu próprio sou.

Porque sofro, sem haver uma pausa, cansando-me de não me cansar. Rendo-me à cativante revolta.

Já não sai de casa pela manhã, nem casa existe. As ruas despiram-se em morte, sem anúncio prévio. As pedras segredam o seu nome, em todos os caminhos que percorria. Em todos os dias que as piso, sigo trajectos antigos. Não desisto de me perguntar…

- Qual o meu sabor no saber?

De momento, no único que me é proporcionado saber e saborear, perdi-me.

Perdi-a.

7 comentários:

Anónimo disse...

Gosto das personagens femininas que povoam o teu imaginário :)*

Anónimo disse...

Entregaste-te demasiado.. quando olhavas para ela incorporaste no sangue e na alma tudo o que ela era por fora como uma segunda pele. Calcinaste apenas o que era substantivo por isso não te lembras do seu sabor. E simplesmente porque te esqueceste de a saborear! Para a proxima vez já sabes..

Anónimo disse...

Toda ela vivia em cada lugar. Toda ela tocava em cada dedo disperso pelo mundo. Toda ela não era mais que inexistência. Absoluta, gradualmente tornava-se em nada.

o todo e o nada. a mão invisível. a palavra fantasma. a ausência dentro do ser vivo. o mundo. o homem. a natureza. unos.

o todo absoluto. absolutamente nada.

A.*

Anónimo disse...

saudade.tristeza.luta...
mas sempre a muita esperança.



...é ao que me sabes________M.___.






AceitoAqueleAbraço

_________________A.__________.

Buda Verde disse...

qual o sabor?

Joker disse...

Nada se perde, tudo se transforma!
"Quero...saber-te...melhor!"

Gostei!

Uma magia e um beijo marvelhágico!

A. disse...

...sei-te melhor.o tempo passa e
há os que permanecem.tu.

não sei como me cheguei ao__M.________sei apenas que


____________________A.inda bem.






um obrigado sincero
e profundo.