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quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Ego, Imperatore

Mais que meras palavras, quero essas tuas num tom menos melodioso. Quero mais que as gastas e polidas loiças em que te serves. Mais que qualquer sofrer de vestir a minha condena, quero a tua pedra sobre a minha. Mais que um rasgo na pele em que te falo, de tanto querer cair na vitória, é pisar este térreo desejo de me entregar ao chão que me há-de engolir.

Fui anulando a teoria de que mais nenhum ser existia em mim. Desvendando em cada segredo, um rosto antigo em que me reconhecia. Quando a folha estiver repleta, será. Assim acontecerá comigo, no seu devido tempo, proporcionado pela fé que me move.


Que me prenda num todo, sem nada deixar caído no esquecido. Que me valha mais do que as mil atenções. Assusta-me sentir a morte tão igual a todos, aos comuns. Tão depressa se instala, assim como o amor de uma mulher. Trago a cruz, a negro veludo.

Esse medo, ainda que me empate o caminho, resume-se a dedicar parte da ausência ao sofrer por amar. E quando se ama sofrendo na ausência de amar. Sofrendo-se por não ser amado, amando que se sofra pelo inimigo. Inimigo que sou, de mim.

Escrever linhas a fio, sem saber realmente para onde se encaminha todo este império. Poderia casar uma artéria minha a um vício maior. Recorrer à circunstância limite, tanta vez abdicando da própria sombra.


Pode o tempo decorrer por mais decanos manuscritos, perseguido pelo seu séquito de pensamentos vagos e incompletos. Poderei eu aguentar tanto assim como os próprios? Duvidosas solidões a que confio os momentos de fraquejo.

Faz-se na falta de uma outra luz, conspiradora e interesseira. Vis sepulturas a todos os que se julguem iguais, proferindo o meu nome em vão. Não me gastem em palavras fúteis, mesmo que sejam de auxílio. Clamem-me, porque eu digo que o façam! Nem a morte transformada em ouro bastaria para que valesse um dedo de mim.


O mundo, insuficiente, findando sempre no horizonte. Terreno agreste, grito saudoso de cada lágrima, suor e sangue. Acendalha viva em chama, minha batalha entre o Bem e o Mal. Impregnada a ligadura na tua saliva, não permite que me perca em pedaços que estou. No meu lugar, neste mesmo trono erguido à custa da minha escravidão, impero-me a reinar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Não podia lembrar-me de outro Escritor ou de outras palavras com tanta força.____________________...


"Fanático!Lembro-me de me arremessarem essa palavra,desde a infância. Que é fanático? É uma pessoa que acredita apaixonadamente e actua desesperadamente de acordo com o que acredita.Passei a vida a acreditar em qualquer coisa.Quanto mais castigos levava,mais firmemente acreditava.Eu acreditava e o resto do mundo não! Mas o mundo é mais insidioso do que isso.Em vez de sermos castigados somos minados, tiram-nos o chão debaixo dos pés...É um negativismo que nos leva a exceder-nos,que nos obriga a consumir perpetuamente a nossa energia no acto de nos equilibrarmos,e não podemos acreditar que debaixo dos nossos pés se está a abrir um abismo incomensurável.Isso resulta de excesso de entusiasmo,do desejo apaixonado de abraçar as pessoas,de lhes demonstrar o nosso amor.Quanto mais estendemos os braços para o mundo,mais ele recua.Ninguém quer amor autêntico,ódio autêntico.Ninguém quer que ponhamos a nossa mão nas suas sagradas entranhas.Enquanto vivermos,enquanto o sangue ainda estiver quente,teremos que fingir que sangue é coisa que não existe... Don’t step on the grass! É obedecendo a este lema que as pessoas vivem."

Henry Miller
"Trópico de Cancer"______



Voas.___________M._____________

Anónimo disse...

Ave,Marco!

Joker disse...

Olá Mervelho Alampadado

Gostei!

Mas preferia ter lido:
...
???

Cheers

Anónimo disse...

Das duas uma: ou tiveste um sonho fantástico sobre os ultimos dias de Pompeia ou julgas que foste imperador noutra vida. E agora jazes para aí coberto de ouro e pedra, viajando para dentro de ti mesmo e queres o teu nome proclamado sob as mais altas virtudes... Mas a história há muito que foi escrita Marco por isso sai desse periodo de incubação porque no fundo os teus impérios foram derrotados pelos pecados, pela ganância e pela idolatria aos falsos deuses! Nunca foste imperador. Não condiz contigo. E não teimes em escrever sobre o que nao conheces porque vais provocar uma descontinuidade na linha do sagrado e do mistério. É um território que não te pertence. Limita-te a governar o melhor dos teus reinos: o da paixão/erotismo.

Anónimo disse...

ninguém tem o direito de escrevizar ninguém, a meu ver; creio que somos escravos de nós. e reis também =) depende dos altos e baixos, né? lol

não quero ser moralista caramba!

beijocas

A.*