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sábado, 19 de fevereiro de 2011

por aí

Perdi-lhe o medo. Sim, aquele medo. Talvez por isso não lhe siga o rasto. A quem? À espera, à virtude que existe no provocar o encontro. É forçado dizer-me esquecido, quanto mais ousar-me noutras roupas, por outros corpos, quiçá perdido. Perdi-lhe o medo, só isso.

Mesmo quando a ausência se torna macilenta, na sua tendência para o grês, na crescente semelhança com outros tempos, os duetos resumidos a tramas, e nem por isso sinónimos de compasso.

Sem que lhe sinta aversão, naquela espécie de sobressalto que arrepia a pele, a gaguez insolúvel nos gestos, o suor na impossibilidade do frio, as mãos perdidas no espaço roubado ao vazio. Perdi-lhe o medo, e com isso ganhei um lato momento em que condenso, condeno, coordeno, comandando a máquina pelas estradas despidas. Sem ser uma constante, repito-me, que até na doença do bem, existe um mal que se quer sempre por perto. Demasiado. Já envenenado, sem que o juízo me abandone, certifico-me de não me esquecer, ou talvez tenha perdido a vergonha de mentir.

Perdi-lhe o medo, sem gesto altruísta, porque não existirá um próximo dentro de mim. Perdi-lhe o medo. Perdi-lhe a graça. Perdi-me nas linhas, sem querer abandonar toda a margem que isso me dá, transcrevo-me em toda a extensão de sentir.

No melhor de dois mundos, é fazer-me à estrada nas madrugadas, no tardio enrudecer da voz, contar-me ao nevoeiro, dissipar qualquer dúvida ao longo dos primeiros cinco mil quilómetros. E onde foste? A todo lado e nenhum. Perdi-lhe o medo, não o caminho até lá.

18 comentários:

Autora de Sonhos disse...

Fantástico!

Táxi Pluvioso disse...

Eu perdi o medo quando recebi o primeiro "invólucro mensagem" das Finanças, agora abro a correspondência a rir, corajoso. boa semana

Anónimo disse...

Perderes o medo, encontrando-te... Seguindo no caminho que conheces, destemido...

Fantástico este texto (para não variar!!).

Beijinho

A Merceeira disse...

Aventura-te...

*

A Minha Essência disse...

Se perdeste o medo, então já é meio caminho. O outro meio logo se vê o rumo que dás...

Beijo na alma

MissBlueBuble disse...

Ganha coragem e caminha ate lá.
Muito bom :)

Táxi Pluvioso disse...

Venho desejar bom Carnaval.

Anónimo disse...

Caro Lâmpada,
Pode-se sempre perder o medo sem se perder a vergonha. Por mim falo. O sonho que me alimenta não é bom na sua essência. Não é e nunca foi. Nada passou apenas de uma armadilha de velhos ressabiados pelo que o mundo não lhes deu. Não por não o desejarem mas porque nunca o mereceram. Em mim ficaram as marcas do que poderia ter sido mas nunca foi. Resta-me somente olhar para trás e recordar o que de positivo eu consegui extrair.

farfalla disse...

"Perdi-me nas linhas, sem querer abandonar toda a margem que isso me dá, transcrevo-me em toda a extensão de sentir."

Saudades de te ler assim :)

http://www.youtube.com/watch?v=5LWpw3CMCEg

S* disse...

Gosto. Ousar é o que nos permite conseguir.

Anónimo disse...

Depois... entranha-se? :)
Não sei se será bem assim... Se for, deve demorar...:p

A Loira disse...

Estes teus textos...

Anónimo disse...

muito bem.

eu perdi tudo, e ytento não sentir nada.

Dark angel disse...

As tuas lampadices nunca deixam de me surpreender.

T´mv, Marco*

Táxi Pluvioso disse...

Então apagou-se a lampâda? boa semana

RC disse...

;)

retiro o que disse... disse...

Gostei especialmente da música... se gostei...

Da escrita, mais da maravilha que já é habitual.

Beijo, cá da Big Apple, com saudades. (Mesmo)

Primavera disse...

...por aqui... :)*