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terça-feira, 24 de agosto de 2010

sal|iva[me]

Aqui e agora, como se nada mais tivesse impacto na minha saudade, não ser esquecida, mas antes escrita na saliva em que me gasto. E como gosto, moldado ao feitio do vento que me seca a boca e me devolve à terra, descrever-me nos pequenos tons deste aperto. Inquietante, a redoma de uma espécie devolvida aos próprios braços.

Destes laços que não aceito. Dessas lágrimas que não trago. Daqueles olhos que se despedem. De uma coisa qualquer, que funda a alma à pedra, a uma mordaça glosada de tanto me repelir a voz.

Aqui e agora, oiço-me entre as paredes que me deixas tocar, a transparência de abrir os olhos e cegar-me nos desafortunados mares dos teus gestos. Faz-me o suspirar tamanho mal ao sangue, oxigenando o que desejo calmo e em silêncio.

De um orla abraçada ao manto de prata, aos cantos expostos de um querer dito mormente em lábia. Esta saliva que o tempo rouba, nos olhares encadeados por sorrisos, nos corpos dispersos pelo areal, oriundos de um aperto e términos no abraço.

Aqui, deste preciso lugar em que o agora se repete, não me servem as mãos para acenos, nem as palavras para desnudar o sentimento. Seja a vontade uma aliança das marés, porque destes horizonte sem fim, de nada se farta este tanto querer.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

terminal

Farto de procurar nas palavras, o sentido que não encontro em mim. Uma finitude desgrenhada, rosto solto de beleza ou alma purificada. Purga, clamo-a. Chamando-me de novo para os ossos, tutano de sabor agreste, um movimento contrário ao esperado. Seria mesmo inevitável, talvez o mais provável do sentido. É sentido, e sentindo, continua a ecoar o vazio instalado, estala-me o sono. Não descanso, durmo sobre um leito de certezas e desagrados. Porque sou desagradado e um tanto desagradável. Realista apenas.

Abraçaria mais depressa um fantasma alheio que fazer-me fácil à vida. Contrapondo com o gosto por sentidos práticos, pelos outros apenas de aroma a qualquer coisa. Não me podem pegar por aí, pelo que julgam cegueira e eu dádiva. Torna-se o instante quase obsoleto, o futuro cinzento, enfadonho como viagens por túneis escuros.

A aprendizagem deveria tornar-me ágil, forte, coeso. Não mais sagaz, que me canso de ter os ouvidos à em escuta e o coração alerta. A sensatez deveria vir racionada, em porções paralelas com a estupidez com que se injecta a realidade nas veias.

É demasiado para mim, já é demais para sermos apenas uns quantos a acreditar que é possível alcançar a coisa. Saber-me a boca a morte quando ainda nem a defunta flor do bem secou por completo. Vai morrer, é certo. Saber que se fina............................ agora neste instante. Provoca-me um arrítmico sentimento surreal.

O impossível está tão perto, e o sempre acostuma-se ao próprio hábito de reescrever-me a negro, quando me queria ver a azul translúcido. Um luto constante à luta, guerreia incessante à qual nem o rosto escapa. De uma vertigem somente reservada a Impérios, saber-se soltar o cabelo e calar as asas. Assim, de sorriso escondido no sabor do sal.

Um não sei quê que tanto me define. Sem limitar-me ao infinito, não me corrompe a coisa alguma, e em nenhuma me ter por completo. O não sei que mais de tanto me sentir quebrar, agarrar-me a isto. Esta coisa que me impede deixar de acreditar, ser-me possível entre os mortais.

As viagens, as esperas, as pressas, as idas, os regressos, as horas, o tempo que estagna, o outro que voa, os beijos, as despedidas, as alegrias e mais os sabores amargos do adeus. Quantos quilómetros tem este meu amor, sem ter a certeza que coisa é esta que trago no peito.

Tantas vezes quedei-me por esta estação, pensando que poderia prosseguir viagem. Afinal não. Não. A negação ecoando pelo túnel de azulejos e ladrilhos. Terminal, é o que sou.

terça-feira, 3 de agosto de 2010