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quinta-feira, 15 de julho de 2010

palavras cãs

De ti, para ti. Tu e mais tu. O meu, agora teu. Eu, existindo em ti, sem me rever ao espelho, somente nos teus olhos. Sempre tu, e eu sem me ter. Quando tudo se resume a mim a este veneno que carrego. Deixas-me sem fim, quando nem no princípio me fizeste. Vivo entre despojos de intenções mal medidas. Estranheza na boca, outro cheiro na pele. Vens e vais, até me atordoares, e eu, voltando a dar-me de soslaio, a um risco de inutilidade escorrida na folha.

As palavras são o meu próprio veneno. Na intenção de nada mais expressar, este não sentir. Não saber-me melhor nestas absurdas linhas. Os pontos no final de cada frase deixam de fazer sentido, quando nada mais são para além disso. Não são mais que repulsa, sabendo-me a tão pouco. Não me existem no sangue, e aqui, por este peito, fulguram dúvidas crepitantes, matam-me aos poucos. Estas linhas, sinuosidades do teu corpo, embargam-me, e num trago, de uma só vez, não me trazem de volta, nem por metade.

Não pelas palavras dos outros, mas sim pelas palavras de todos. Procurar-me entre as mesmas, porque inteiro não estou e mal me sinto gente. Um ensaio, experimentação sempre, sempre, sempre repetida até à exaustão. Sem se ler metade das palavras, resumindo outras tantas a meias verdades.

Se me faço na dúvida, nesta pele de nudez consciente, inexperiente, desarticulando a frase até ao fim. Sempre a sós, contigo, nesta minha cabeça. Deambulando pela luz da tua pele, unicamente transladada como rainha da mais indefesa virtude. És-me leal ao sal escorrido pelo rosto, até que me toques no canto da boca, lambendo cada pedaço do caminho, a cada onírica manhã, esperançosa de um sol que me queime o sorriso no rosto.

A pátria da alma requer uma infinitude que o corpo não acompanha. Não mais. Oferece-me esse corpo e a sua compleição pela mortalidade, igual ao dia que vi nascer, desvanecendo-se pouco a pouco, como este beijo abandonado no mesmo lugar onde morri nas tuas mãos. Preciso de ser imortal, mesmo quando me beijas como sovela no couro. Segue o sonho no próprio caminho, sinestésico, pois aqui impero em todo o pesadelo.

Este manancial virulento do quase tudo, abocanhando cada palavra já no vazio das suas intenções. Voz dorida que tenho em mim, aqui dentro, tão cansada de reescrever-me em paixão comedida, mas tão extravagante como um concílio de deuses anónimos. Adicto e tão farto de o ser.

Cansado sou, sem sequer ter estado de todo, repleto de pele. Apenas ossos. Escrever sobre mim é ser acólito num estado de embriaguez, de um terrífico mau beber e pior feitio. Faltam-me as surpresas, as boas. Sorvo catarses, designando-te de mulher. E és-me por inteiro, em todas as metades que me faltam.

Espinhoso, sinto-me cravado em pua, na tua, na tua, e mais na tua que me és. Ai mulher, que te procuro, achando-te tão mais bela no bem que me tomas, tornando-me no teu mal apenas. Sou um crente, mesmo não me acreditando. Esta tua presença em todo o vazio. Em todo, vazio.

9 comentários:

Anónimo disse...

Sem palavras :)...

Beijinho

retiro o que disse... disse...

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"

Fernando Pessoa

Luiza Maciel Nogueira disse...

Já dizia Alice Ruiz que tudo vibra. Até o vazio vibra, querendo sair algo de dentro e criar :) beijoss

A Minha Essência disse...

Um sentimento constante que necessita de ser alimentado...

Gosto muito de ler o que escreves.

Madame Lili disse...

Pronto, já sei quem te mandou lá ir... hehehe

E eu como sou uma rapariga bem educada, venho retribuir a visita.
Não comentarei todos os posts, da mesma forma que o fizeste... tambéééém... apenas leio.

Beijos.

Estranha pessoa esta disse...

Vale pelo texto. Porque vazios, já bastam os que tens.

Ah pois é, caro amigo!

Estranha pessoa esta disse...

Vale pelo texto. Porque vazios, já bastam os que tens.

Ah pois é, caro amigo!

A Loira disse...

Sem dúvida, os textos envolvem-nos.

Dark angel disse...

O todo que se divide, mas sem a dúvida de que o todo é que te define...

Beijo*